segunda-feira, 30 de maio de 2011

UM ENCONTRO NA FONTE DO CARI-IÓC

LENDAS DA FONTE DA CARIOCA

por Márcio José Rodrigues

O horroroso grito de dor não abafou o som cavo, oco, da cabeça estourando. O corpo caiu ao solo, e já, num instante, imóvel.  
O primeiro combate real e o primeiro ser humano de quem tirava a vida.
O feito heróico foi celebrado na taba e cantado nos serões ao pé do fogo. Mais ágil que o tapuia, o jovem carijó brandira no ar a pesada clava, atingindo-lhe em cheio o crânio.
Passavam-se, porém,  as luas e o espectro horrível do morto tornava suas vigílias insuportáveis, sem que abandonasse seus sonhos e deixasse de torturá-lo nos pesadelos das noites sem fim. Se fechasse os olhos, via à sua frente, naquele rosto pintado de urucum, a expressão de ódio e medo; se os abrisse, o vulto esgueirava-se furtivo pelas sombras. Muitas vezes, deixara o conforto da rede para persegui-lo, em vão, na noite fria.
            O encontro com o tapuia foi uma experiência brutal. Como num salto, rompeu definitivamente as amarras com os últimos traços de meninice que porventura ainda existissem nele. Já não mais sentiria a antiga alegria nos jogos com os amigos, as ruidosas correrias e os banhos na lagoa. Embrenhava-se na mata por dias a fio em caçadas solitárias ou em longas caminhadas pela planície arenosa à beira-mar.

Após uma dessas demoradas ausências, ao retornar à aldeia, tomou uma velha trilha na mata costeira. Sedento, dirigiu-se à fonte do "cari-yóc"  na hora mais quente do dia, o sol quase a pino no céu.
A água cristalina brotava borbulhante do chão. À frente de um barranco, formava um poço circundado por velhas pedras cobertas de limo e transbordando em um córrego de pouca largura que corria na direção da laguna.
O lugar situado no encontro de duas colinas na orla da mata, estava guarnecido em ambos os lados por frondosas árvores a ostentar em sua grossa galharia, exóticas bromélias e musgos pendentes, como se fossem longas cabeleiras. Elas delimitavam um amplo espaço ensombreado, enfeitado em toda a extensão pelas mais belas orquídeas, lilases e azuis, outras amarelas e em cachos, debruçadas dos ramos.
Era como uma grande caverna de ramos e folhas, fresca e agradável, o chão revestido por uma larga esteira de um verde-castanho  de musgo macio e folhas secas.
Depois do entardecer, nem o mais ousado dos guerreiros aproximava-se daquele lugar.
Na noite escura, por lá se reuniam os espíritos maldosos da floresta, o Kurupi e os animais da noite, quando o traiçoeiro jaguar bebia a água e o sangue de suas presas.
Mas, era nas horas claras do dia, o ponto de encontro das alegres cunhãs a buscar água pura os afazeres de suas ocas e da algazarra dos curumins a exercitarem a pontaria de seus arcos no passaredo e nos bandos ruidosos de aracuãs.

Bem a frente desse lugar paradisíaco plantava-se a grande aldeia dos  carijós que povoavam a terra de Embiaçá.

A figura vultosa do caçador, assomando repentina, produziu assombro e susto nas mulheres, iniciando de pronto enorme confusão e alarido que se transformaram em alegre manifestação de festa e risos, tão logo o reconheceram.
Ele, fingindo altiva indiferença, aproximou-se, inclinando-se para apanhar a água com a concha das mãos. Tão sedento estava, não percebeu do outro lado da pequena fonte, uma jovem ajoelhada, que se dispunha a encher a igaçaba.
O fundo de limo negro transformara a superfície em um espelho a refletir os pequenos retalhos azuis de céu por entre as brechas da ramaria.
Então ele viu, a dançar no espelho, aquele rosto de mulher a espreitá-lo do fundo, quase irreal, como se fosse um espírito das águas.
Reteve o movimento da mão para não quebrar a imagem. Cerrou os olhos por uns momentos, como a querer certificar-se de que não era apenas um feitiço da fonte.
Quando os reabriu, o rosto ainda estava lá.
Levantou devagar a cabeça, desvendando aos poucos a figura à sua frente. Os joelhos, as coxas, os seios e finalmente a face da bela mulher a estender-lhe um pote de argila.
- Tupã, como é linda! - foi o único pensamento que lhe acorreu. Muito mais que a lua no alto do céu, que o sol a nascer no horizonte da grande praia do Gi...
Mais ainda do que poderia ser a própria Iara.
- Iboti, ela adiantou, é meu nome. É a palavra  que recebi dos sonhos de meus pais ao
 nascer.
- Por que me deste água fresca da fonte para saciar minha sede? Agora estarei para sempre ligado a ti e ao teu destino.  Tu me conheces?
- Tu és Tanh'aranha, o mais valente guerreiro de toda a nação carijó. És tu que estás presente nos sonhos que Nhanderu-ête me manda todas as noites.
- Tu és Iboti, a flor!
Tanh'aranha tomou-a por esposa e no aconchego de seu corpo quente e nu, nunca mais o espectro do tapuia perturbou suas noites de sono.



Caraí -yóc, Carió  = pele clara, carijó, indio guarani habitante da costa sul do Brasil, inclusive, Laguna
curumin= menino
Carioca = fonte do Carijó? (observação do autor))
cunhã  = moça
Igaçaba = pote de argila de várias utilidades
jaguar = onça
Kurupi, curupi = espírito mau
Embiaçá, M'biaçá = Laguna
Nhanderu-ete = Deus, divindade suprema dos guaranis
Tanh'aranha = último cacique dos carijós de Laguna. Teria se lançado ao mar, para não se submeter à  escravidão nas fazendas de São Paulo.
Tapuia = índio do grupo gê, mais arredio e selvagem que o carijó.
Tupã = Divindade tupi-guarani.
Yara, Iara = espírito das águas em forma de uma mulher belíssima.



terça-feira, 24 de maio de 2011

OS SINOS DA MATRIZ DE SANTO ANTÔNIO

 por Márcio José Rodrigues
No ano de 2000, a tricentenária e veneranda Igreja Matriz silenciou seus sinos pelos próximos 3 anos, para restauração do templo, as cerimônias eram realizadas no grande salão do Centro Cultural. Quando eles voltaram a soar em 2003, à tardinha e de surpresa, durante a celebração da Santa Misssa, uma forte emoção tomou conta de todos, silenciosa, feita de sorrisos em rostos iluminados.
Igreka Matriz de Santo Antônio dos Anjos da Laguna vista da praça
Vidal Ramos ao entardecer.

                   

Os sinos da velha igreja,
A manhã iluminada,
A rua onde eu morava,
Acordando ensolarada.

Passos leves pela casa.
                   Minha mãe, pé ante pé.                   
Pouco depois, da cozinha,
O aroma do café.

Um arco-íris travesso,
                      Filtrando na gelosia,                        
Um vento de mar soprando.
Um cheiro de maresia.

A vida recomeçando,
O ruído na calçada,
Da gente, sob a janela,
Passando pouco apressada.

Os sinos da "Santo Antônio",
Lembrando a doce fortuna,
De se despertar de um sonho,
E amanhecer na Laguna.
                                       
Márcio José Rodrigues

        

segunda-feira, 23 de maio de 2011

FESTA DE SANTO ANTÔNIO A VISTA!

Edição especial para os festejos de 2011.

PARÓQUIA, IRMANDADE E FESTEIROS ESMERAM-SE EM PRODUZIR UMA FESTA INESQUECÍVEL.

VENHA PARA LAGUNA DESFRUTAR DE BELEZA, HISTÓRIA, TRADIÇÃO E FÉ.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

COMO GASTAR VINTE MIL RÉIS


por Márcio José Rodrigues - crônica.

Sábado, logo depois do almoço, uma tarde quente de verão, nenhuma folha se movia no pé de anonas.
A barriga cheia, o calor, a quietude, provocavam uma modorra dolorida, mesmo num garotinho de nove anos, que procurava alguma coisa interessante para fazer. Na casa ao lado os adultos dormiam a sesta.

Entreabriu a porta da fabriqueta de colchões de palha do avô Antônio Lino. Pelos cantos, empilhados, fardos de palha de butiá e peças listradas de panos vistosos, muito coloridos. Aquele lugar, naquela hora, parecia um tanto misterioso e assustador e exalava uma estranha mistura de cheiros de bolor, umidade e goma de fazenda nova.
A luz forte do começo da tarde, filtrava pelas juntas das telhas e deixava uma penumbra suave no pequeno galpão, mas os raios do sol desenhavam seus caminhos luminosos no espaço impregnado de poeira e de fibras leves de algodão que destacavam de branco, as teias de aranha no madeirame do telhado.

Diante da mesa grande - uma que tinha uma roda de ferro com uma manivela - bem no facho de luz que a porta projetava no assoalho de tábuas largas, estava silenciosa, assustadora, deslumbrante, a pelega de vinte mil réis.
A pelega era enorme.
Quem a teria perdido ali?
Não demoraria muito, por certo, a casa estaria toda em polvorosa à procura dela.
Melhor chamar a vó e entregar.
Mas, quem acreditaria que a nota tinha sido achada naquele lugar, assim tão à mostra?
Os adultos não eram fáceis.
Haveria mil e uma perguntas, desconfianças.
A história teria de ser contadas muitas vezes, principalmente para a desconfiadíssima tia Zilda.
A cena do “crime” seria revisada, haveria ameaças.
Sabe o que mais?
Deixar tudo no devido lugar e fazer de conta que não tinha visto nada.
- Vinte mil réis!
Um pirulito de galinho na venda de seu Samuel custava um tostão. Cada mil réis tinha dez tostões. Dava de comprar um galinho por dia, durante duzentos dias.
Sacos e sacos de pipoca.
E se a pelega tivesse sido perdida por algum comprador, na hora de pagar?
Se fosse do avô, ele sentiria falta.
Mas, se fosse de um comprador, ninguém sentiria.
A matinê de Domingo, no cinema, custava “quinhento réis”.
Um gibi, também.
Nenhuma tia parecia acordada.
E se alguém viesse procurar?
Um picolé de coco na Miscelânea custava “quinhento réis”...
Tentação, medo, ambição, angústia, vinham e voltavam, intermitentes como se tudo estivesse latejando.
Que vontade de pegar aquela pelega e sair comprando tudo.
Que medo de ser descoberto.
Pânico.
Mas, o diabo devia estar rondando por ali.
Não veio pessoalmente, mas mandou um secretário, porque, de repente...
A sombra na porta!
Puta susto desgraçado!

Primo Nivaldo estava por ali negaceando, sorrateiro.
- De quem é esse dinheiro?
Pouco depois estavam os dois na “A Miscelânea”, um na porta de guarda, outro no balcão comprando sorvetes.
- Duplos!
- Duas bolas – de creme e ameixa.
- Duas gasosas! - gasosa Grünner, uma de framboesa e outra de abacaxi, com canudinhos.
O troco da compra era tanto dinheiro que começou a crescer no bolso.
- Quanto ainda tem ?
- Dezoito!
- E agora?
- Quero mais sorvete!
Quase ninguém na rua.
As poucas pessoas estavam mais em volta do Café Tupy, da Miscelânea e da Sorveteria Polar.
- Não quero mais sorvete!
- Quanto tem de troco?
- Dezessete! – uma porção de notas de dois mil réis e uma montanha de moedas, que pesavam e tilintavam no bolso. À medida que o apetite sumia, um aperto subia desde o estômago até a garganta. E o maldito dinheiro, aumentava cada vez mais. Como voltar com aquilo tudo para casa?
- A gente tem que gastar o dinheiro!
- Vamos comprar picolé!
- Do quê?
- O meu é de côco!
- E agora?
- Vamos comprar gibi na livraria do Juca!
- Almanaque d’O Tico-tico! – Réco-réco, Bolão e Azeitona, cantarolavam.
-  Pato Donald!
- É sábado! – está fechada!
- Não agüento mais! Vou jogar fora o picolé!

Meia hora mais tarde, sentados na beira do cais, o crime produzia as suas conseqüências.
O dinheiro do troco, parecia cada vez maior.
Tinham errado o pulo e não imaginavam que fosse assim tão difícil, gastar vinte mil réis.
O medo aumentando, oprimindo o coração.
Parecia aquele filme de bandido, em que o sujeito não conseguia esconder o cadáver.
- Tô com vontade de vomitar!
Nem conseguiram acabar de comer as barras de chocolate.

Pode parecer impossível - com a educação permissiva e tolerante dos dias de hoje, que algum menino se preocupasse com uma situação dessas.
Chegaria tranquilamente em casa e se por acaso, - e se, por acaso, alguém perguntasse, diria simplesmente :
- Achei!
E caso encerrado. As pessoas já não querem  incomodar-s e preferem às vezes, não saber o que os filhos fazem.
Mas, não era assim. Tudo era minucioso. Tin-tim por tin-tim. Não se deixava passar nada. Uma peneira fina.
Questões de objetos e dinheiro eram investigadas a fundo. As moedas queimavam no bolso como as de Judas.
- Quanto tem de troco?
- Acho que tem uns quatorze, perdi a cvonta!
- Vou falar prá vó! – disse primo Nivaldo, já querendo abrir um bocão e sabendo que vó Estelita iria protegê-lo.
- Tu tá louco!
- Não fui eu que peguei o dinheiro ! Eu só vim convidado!
- Eu digo que foi tu que achou! Aí eles vão te mandar para a casa da tua outra vó, a Lilica!
- Eu tô com medo!
- Vamos fazer assim : - a gente fica quieto e esconde o dinheiro. Depois a gente gasta de novo!

O muro de pedras ao lado da casa tinha frestas enormes entre os blocos, onde as crianças costumavam escavar com gravetos a argamassa velha de barro, à procura de ovinhos de lagartixa.
Numa dessas frinchas as moedas e as notas de papel enroladinhas, foram cuidadosamente escondidas.
Parece que tinha mesmo razão. A pelega devia ser de gente estranha, algum freguês de fora, porque em casa, nunca se tocou no assunto.
O medo de ser descoberto durou vários dias.
O coração disparava cada vez que alguém chamava.
Como se fossem soar as trombetas e despencar o Juízo Final.
Mas, nem mesmo a espertíssima irmã desconfiou de nada.
Primo Nivaldo, passou o fim de semana e a seguinte, na casa da outra avó, a Lilica.
Dias mais tarde, numa dessas horas quietas, foram, com muita cautela, verificar o esconderijo.
- Ué , o dinheiro desapareceu!
O desaparecimento do maldito troco, produziu-lhe uma intensa alegria. Sentiu um alívio enorme, como se tivesse livrado de um fardo, uma carga, que andava carregando há vários dias, que lhe dava pesadelos e sobressaltos.
Algum tempo depois, a paz voltou a reinar no mundo, onde já dava para viver sem medo e dispor até de um certo espaço para lembrar o incidente.
Mas, ficara para traz um mistério, que talvez, jamais pudesse ser resolvido.
O sumiço do dinheiro, de um lugar que só primo Nivaldo Sabia.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Cielito Lindo Banamex


Rrecebi este link através do amigo Juarez Medeiros.
Não poderia privar os visitantes deste blog de uns
momentos de alegria e felicidade.
É impressionante como a harmonia entre os povos ainda
pode ser sonhada nesta demonstração de gente de tantos lugares e de culturas e raças diferentes.

terça-feira, 17 de maio de 2011

ENTRE A LEI E O CALOTE


PROFESSORA MARIA DA GRAÇA DUARTE RODRIGUES - FORMATURA
por Márcio José Rodrigues





































Sou filho de DONA QUENA,  uma professorinha  que lecionava em uma escola reunida no interior.
Viúva ainda jovem, eu ela e minha irmã, éramos felizes e aprendemos desde cedo o que era economia forçada para sobreviver com o salário de uma professora.  Pequena horta, algumas galinhas, ovos, uma cabra que dava leite, pequenos peixes do riacho que corria pelos fundos  da humilde casa de madeira. O que nos ajudava a  manutenção, era a honestidade que sempre manteve o crédito na venda para alguns gêneros de primeira necessidade.
 Minha mãe também era uma enfermeira prática, a única da região e nas horas livres, corria a pé os caminhos de carros de boi do Gravatal, para aplicar injeções ou fazer curativos em feridos, ministrar remédios. O pagamento vinha com um bem-vindo "Deus lhe pague" ou  pencas de banana, açúcar mascavo, farinha de mandioca, pão caseiro, frutas de época. Aprendi a gostar de farinha de mandioca, pirão com peixe frito, sopa de açorda com um ovo.
A escola foi para nós, a nossa vida.
Estudamos, os três e formamo-nos, sempre com recursos minguados. Tornamo-nos todos professores.
Minha mãe galgou outros cargos chegou ao posto de "Inspetor Escolar", sempre por concurso público e daí para Coordenadora de Educação.
Fiz curso superior, pós-graduação em Metodologia do Ensino. Lecionava em três turnos por dia, com 400 alunos. Estudava como um louco e cheguei a ser hospitalizado por esgotamento.  Casei-me com uma linda professora (foto) e nossos salários juntos, não nos conseguiam   manter com uma vida digna da nossa cultura e saber.
Conheci ao longo de  mais de trinta anos de magistério, colegas com problemas maiores que os meus, magros, mal vestidos, doentes, com jeito de fome na hora do recreio, ansiando por uma sobra da merenda escolar.  Nunca conseguimos qualquer reconhecimento, não fossem as greves deflagradas.  
E sempre perdemos.  Os pais dos alunos, paradoxalmente, nunca nos apoiaram.  Para eles éramos babás de graça pagos pelo governo e aliviávamos a carga de cuidar dos filhos por quatro horas por dia. Para eles deveria haver aulas aos sábados e domingos e sem férias, de preferência.
Ao longo desses anos só vi a educação degradar-se, cair a níveis inaceitáveis para a moral e os bons costumes. A impunidade ensinada pelo exemplo dos políticos sustentados abaixo de golpes baixos, garante a bagunça sem restrições.

Os direitos humanos não conhecem os professores.  Eles enfrentam o corredor da sala de aula como um condenado enfrenta o corredor da morte de Sing-Sing, com medo dos alunos, crises de pânico, stress. Não são poucos os que se encontram licenciados para tratamentos psico-somáticos.  Com direito apenas  às esperas do SUS, pois não podem pagar um plano de saúde completo.

Todos ganham muito pouco, não podem assinar revistas nem comprar livros. A maioria ganha menos que uma empregada doméstica e não raro, trocam para essa profissão.
Computador, internet, que deveriam ser  ferramentas obrigatórias a um profissional da pedagogia, a um professor, só virão por milagre, depois da comida, do aluguel, da conta da Celesc, da Casan, do gás, do material escolar dos filhos, dos remédios, das passagens de ônibus.
A Educação, a escola pública, a infância e a juventude que deveriam ser a menina dos olho do governo,  passam a ser propriedade dos traficantes de drogas, que já tomaram seus espaços nos templos da educação.
O Piso  Salarial do Magistério, é lei sacramentada pelo Supremo Tribunal Federal.
Mas, o governo de estado de Santa Catarina, quer ministrar a aula magna do calote, pretendendo desmantelar  a verdade e a lei para assaltar os mais  miseráveis da folha de pagamento do  estado.
Quem sabe, senhores governantes, um dia, os senhores não precisem ser atendidos por um advogado ou médico formado na escola que vocês querem abandonar!

SENHORES PAIS.
SEUS FILHOS TÊM DIREITO A UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE E GRATUITA.
APOIEM, UMA VEZ NA VIDA, OS PROFESSORES E LEVANTEM BANDEIRAS A FAVOR DOS ANJOS DA GUARDA DOS ALUNOS.
FIQUEM A FAVOR DA EDUCAÇÃO!

Márcio José Rodrigues é professor de Biologia aposentado após 32 anos de magistério.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

UMA LÁPIDE PARTIDA


Por Afonso Prates Silva*


Imagem Google

Viajava para Laguna numa certa manhã de outono, rádio ligado, só notícias de corrupções e roubos em todos os setores. À medida que avançava na Br a lembrança de minha infância voltava aos poucos. Minha visita tinha duas finalidades; uma, era rever amigos e parentes a outra, daria uma chegada ao cemitério da Igreja Matriz, onde estavam enterrados os membros de minha família, verificar seus túmulos, refazer as pinturas, pois estávamos próximo ao dia de finados.

A Matriz de hoje, muito diferente da de minha infância, reformas feitas na parte externa direita, modificaram sua antiga estrutura, ali estava situado um pequeno cemitério, protegido por um muro baixo, que ficava de frente para a casa do Sr. Pagani.
Havia muitos mausoléus pertencentes às famílias antigas da cidade, ornamentados com letras de bronze, anjos de mármore, o que nos dias de chuva e vento, motivado pela pouca iluminação da rua, refletiam sombras proporcionadas pela tênue luz de um poste próximo, formando cenas fantasmagóricas na parede da Igreja, tendo como cenário de fundo as antigas árvores com aquelas bromélias velhas cheia de barba de velho nos ciprestes dando um aspecto fúnebre ao ambiente. Muitas pessoas evitavam passar por ali durante a noite.

Em meus devaneios, chegamos a Laguna. Em alguns minutos estava eu frente à Igreja, rumando para a parte dos fundos onde hoje está situado o novo cemitério. Lá chegando fui entrando e olhando os túmulos, quantos amigos tinham morrido num espaço de tempo tão pequeno; pequeno para mim, acho que acontece com todos nós, não fazemos muita distinção do tempo, parece que somos sempre os mesmos, que nossas forças não são limitadas, que somos sempre jovens.

Depois de alguns minutos, visita feita, já me retirava quando ao descer vi junto a um paredão de pedras que nivelava o cemitério na parte alta e servia de muro de arrimo, um pedaço de uma lápide, onde se lia: “Aqui Jaz, Edmund Pheyt..”. o sobrenome estava pela metade, o suficiente para que eu recordasse uma estória que minha mãe contava sobre este alemão que viveu na cidade na década de 30 . Fui até a casa de minha tia, bem mais moça que minha mãe, que morava no bairro de Magalhães tirar umas dúvidas sobre o tal alemão, e ali juntos lembramos a estória que minha mãe contava.

Aconteceu na década de 30, o movimento nazista, a iminência de uma segunda guerra, o povo em geral vivia momentos de tensão. As notícias chegavam pelo rádio de alguns moradores mais abastados, muito poucas pessoas possuíam rádios naquela época; este alemão a que nos referimos, diziam, tinha família na Alemanha , trabalhava como fotógrafo na cidade, que naquele tempo era a metrópole do sul do estado. Muito rico, conhecendo a família de minha avó, numa tarde de outono, veio até sua casa pedir para ela que guardasse algo para ele. Ela prontamente atendeu a solicitação do alemão; trazia na mão embrulhado em um pedaço de pelúcia alguma coisa que mais parecia com uma jarra.

Minha avó o levou até o quarto do casal, e juntos colocaram embaixo da cama. O ambiente era de pouca luminosidade, pois era costume naquela época, os quartos não possuírem tantas janelas.

Despedindo-se agradeceu e foi embora. Soube-se mais tarde que partira para sua terra natal, que já se encontrava em guerra. E assim passaram os anos. Muito tempo depois isto já no final da década de 40 voltava ele a Laguna. Logo de início procurou minha avó para resgatar sua encomenda. Neste período, minha avó já estava viúva, pois tinha perdido meu avô recentemente.

Foram ao local no qual deixaram a encomenda e de posse da mesma levou para a cozinha onde mostrou a ela o que havia guardado por tantos anos. À medida que abria ia relatando passagens da guerra, sofrimentos sofrido por sua família e ia mostrando a minha avó as moedas de ouro e de prata que enchiam o boião de barro. Eram moedas do tempo do Império, trazia na efígie a figura de Dona Maria a Louca; valiam uma fortuna, basta dizer que com três ou quatro moedas daquelas poderia comprar uma casa com grandes metragens de terra. Depois de conferido tudo, colocou numa valise de couro e simplesmente agradeceu com um aperto de mão. Nada mais que isto. Meus tios que naquela época eram moços alguns já casados deviam ter falado do caso pela cidade, pois era motivo de conversa nos bares,
Dona Emilia, assim se chamava minha avó, guardou tanto dinheiro por tanto tempo, e nem seus filhossabiam, não foi agraciada com uma simples pataca, menor moeda da época.
Naqueles tempos, não se agraciavam as pessoas por serem honestas, a honradez e a honestidade era um dever, uma obrigação.
Mesmo assim, que unha de fome este alemão.

Foto acervo Afonso P. Silva

A verdade é que alguns anos mais tarde, o alemão Edmund foi encontrado morto na lagoa, junto ao cais, próximo à antiga subestação da Luz, com uma pedra amarrada no pescoço. Teve um enterro decente no cemitério da Igreja Matriz.
Até os dias de hoje nunca foi elucidado o crime.
Transportando-me para os dias atuais, onde predominam os corruptos de colarinhos brancos, penso, que bom se a honestidade e a responsabilidade de outrora viesse a predominar os dias de hoje. Se os homens que detêm a caneta do poder pudessem seguir estes exemplos; verdadeira utopia? Quem sabe um dia.... Todavia, ainda não perdi as esperanças.

* Afonso Prates Silva  é escritor e músico (pianista) nascido em Laguna. Também foi Industrial, além de professor com graduação em Letras (Português e Espanhol). Diretor da Fundação Educacional de Santa Catarina. Criou o curso de Espanhol em Braile no estado.
 
postagem Márcio José Rodrigues

segunda-feira, 9 de maio de 2011

BOM DIA, LAGUNA!

 Laguna
me tem envolvido
pela beleza que esbanja,
na brisa que vem do mar
no voo gracioso das gaivotas
eis o sagrado templo
onde posso gritar:
- BOM DIA, DEUS!
 perfeito cavalheiro, me responde:
- BOM DIA, MÁRCIO!
Pronto!
Estou com um belo dia garantido
vou em frente
encontrando gente
repetindo:
Bom dia!
ganhando sorrisos
descobrindo a poesia no ar.
texto, postagem e fotos: Márcio José Rodrigues

quinta-feira, 5 de maio de 2011

DIA DAS MÃES


Mães e Filhos fotos e montagem mjr

Como muitas outras pessoas  felizardas,  e eu não as culpo por isso, não posso ter minha mãe neste domingo.
Mas olhando para meus filhos e netos reunidos em torno da mesa do almoço, posso imaginar em cada um deles o rastro de vida que ela deixou através de sua descendência.
Estão presentes aqui minha esposa e  filhas , que também  geraram outras vidas.
Se eu avaliasse somente por este ponto de vista,  de disseminar a vida humana por todos os continentes da terra,  seria  a justificativa suficiente para abençoar suas existências.

Mas, isso não satisfaz a minha ansiedade de uma resposta que se ajuste ao que eu preciso. Necessito de uma revelação que está mais para os limites do mágico e do transcendental, que mexem com minha cabeça e me inquietam por saber mais.
Por que elas têm essas formas que parecem ter sido modeladas para abraçar, aconchegar, aquecer, consolar , acalentar, fazer passar a dor e trazer o sono, dissipar o medo e devolver a paz?
Preciso saber por que os seus rostos têm esta mistura encantadora de sorrisos e mistérios, luzes e sombras que falam em cada sorriso, nas expressões dos seus olhares e nos  trejeitos de suas bocas, na contração de cada músculo da face, em suas rugas ou em sua placidez.
E o calor que elas irradiam, o cheiro que elas emanam e não se confunde com nenhum outro em todo o universo?
Porque conseguem falar caladas apenas com a expressão das mãos,  mãos capazes de fritar um ovo sem furar a gema, sacar magistralmente um chinelo ou resolver todas as costuras e arremates, além de transformar o mundo em puro paraíso apenas em acariciar  nossos cabelos?
A única coisa que me ocorre para tentar entender este mistério, é que Deus ao criar a mulher deixou algo mais que Sua imagem e semelhança.
Deixou também um pedaço de Si mesmo, que aflora e se manifesta  quando as mulheres se tornam mães.

Com o mais carinhoso cumprimento a todas as mães.
 Márcio José Rodrigues

quarta-feira, 4 de maio de 2011

EM LAGUNA 3 ANIVERSÁRIOS SOMAM 355 ANOS

postagem, fotos e montagem Márcio José Rodrigues

Na data de hoje, 3 de maio de 2011, três comemorações tão importantes quanto significativas não só para cidade. mas para todo os estado, aconteceram em Laguna.

1. O COLÉGIO STELLA MARIS comemorou seu centenário, tempo iniciado com a chegada de um grupo de religiosas da "Sociedade da Divina Providência". Nesses 100 anos o "Stella Maris" tem prestado inestimáveis serviços à educação de jovens por várias gerações. Seu ensino é de alta qualidade técnica e a educação se baseia em princípios éticos cristãos, da verdade, da justiça e da liberdade. Na opinião da diretora Irmã Bernadete Rech, a existência atual desse tipo de educandário constitui-se num verdadeiro milagre.



2. A SOCIEDADE RECREATIVA 3 DE MAIO, festejou seus 104 anos, como um clube social em moldes tradicionais, agregando um grande número de sócios que ainda têm ali um ambiente familiar onde a diretoria pode exercer um controle equilibrado para garantir a segurança e um convívio sadio. Caminha, como diz seu Presidente Antônio Silveira Filho, na contramão da história, posto os clubes sociais estão em franca decadência, entrando na moda os salões que aceitam qualquer frequentador, desde que pague um ingresso. Além de congregar as famílias, o clube oferece bailes organizados, boas orquestras, ambiente seguro, lazer, esporte, cultura física e ginástica.

3. A SOCIEDADE MUSICAL UNIÃO DOS ARTISTAS, banda de música mais antiga do Brasil em seu gênero, embora paradoxalmente composta essencialmente de jovens. Fundada em 1860, na minha opinião, tem uma origem mais antiga que estes 151, anos, posto que derivou da dissidência de músicos, de outras bandas e foi uma continuidade, principalmente da "União da Lira". Hoje, equilibrando-se perigosamente para continuar existindo, tem pouco ou nenhum apoio oficial, sobrevivendo de heroísmo e abnegação de seus artistas, maestro Gerson Barreto Júnior e o presidente Maurício Espíndola.


Hoje à noite, a tripla comemoração aconteceu com um recital eclético e aplaudidíssimo da "União" num dos salões do clube, seguido de um cocktail franqueado a todos os sócios e convidados, contando com um excelente público, simpatizantes da banda e membros da direção do "Stella Maris".

segunda-feira, 2 de maio de 2011

PORTAIS

Causou-me espanto constatar o quanto temos que apreender com os pequenos e reaprender com os que estão navegando nos extremos da vida.
Penso na relação dos mesmos com as portas.
Os pequenos abrem/fecham com alegria das possibilidades e descobertas.
Se fechada...lá está a friagem!!... medo “d”ela” chegar de repente...
 já é tarde, é outono... é quase inverno!! Por que sair da quentura do ninho aos olhos estranhos?
Venha, fica o convite,
abra-se!!!!!!!!
Portas são presentes,
nossas fechaduras e cadeados,
mas também sinalizam olhos, cérebro e aberturas.
Portas fechadas, batidas na cara, arrombadas, corroídas, novas, bem/mal pintadas;
todas, em nós, entalhadas.
Abertas deixam entrar a renovação da vida,
as visitas, nossos afetos e os sons da rua.
Por ela e através dela nos gastamos, transformamos, guardamos e resguardamos...
Na coleção que temos, e todos temos, algumas são raridades.
Marco inicial, a do nascimento,
a de aniversários,
das trocas de ano,
da marcação de calendários.
Portas de perdas, de novas moradas...
tal qual palafita no rio da vida à deriva,
leva todo o conjunto...


Verônica dos Santos Silva
Poeta, Professora e Orientadora Educacional

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domingo, 1 de maio de 2011

BEATIFICAÇÃO JOÃO PAULO II

É ISSO AÍ, AMIGÃO!

DIA INTERNACIONAL DO TRABALHADOR

Madrugada de carnaval. Catadora de latinhas em Laguna - foto mjr
O dia do trabalhador é mais que uma comemoração.

É uma celebração de luto.



Em Chicago (1886) foi realizada nesse dia uma manifestação de trabalhadores, praticamente escravizados a jornadas de até 14 horas por dia. A 4 de maio as manifestações terminaram, segundo alguns historiadores, em um confronto com a polícia, onde uma bomba teria ferido alguns policiais e morto um deles, A represália foi uma espécie de execução onde teriam morrido centenas de pessoas. Os chefes do movimento trabalhista tiveram julgamentos rápidos e alguns foram condenados à pena de morte, numa tentativa da classe empresarial de abafar o movimento.

Em Paris, em 1889, no ano da comemoração do centenário da Revolução Francesa, em um congresso da Internacional Socialista uma moção propôs o dia primeiro de maio para relembrar o movimento de Chicago, como "DIA INTERNACIONAL DO TRABALHADOR".

No Brasil, a data é lembrada desde 1895 e foi oficializada como feriado nacional por Arthur Bernardes em 1925.

No governo Getulio Vargas, em 1940 é fixado o valor o salário mínimo, com a proposta de suprir a família de um trabalhador de todas as suas necessidades de alimentação, moradia, vestuário, transporte, saúde, blá, blá blá.....

1941 nasce a Justiça do Trabalho.

Ultimamente no Brasil, nos governos de comportamento neo-liberal, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Lula da Silva, os direitos conquistados pelos trabalhadores ao longo da história vêm sendo agredidos em seu cerne, e suprimidos lenta e quase invisivelmente em seus valores, num processo cruel e frio em favor das classes empresariais. As reformas anunciadas sempre solapam de alguma forma o trabalhador. Vide 13° salário - fique atento, multa patronal por recisão de contrato, pagar a previdência por um valor e receber por um menor, a raspagem das aposentadorias.

Para puxar a carroça, basta um burro, um balde d'água e um feixe de capim.


Não faça deste feriado um dia de simples descanso e lazer, mas também um dia de vigilância, de refexão pelo bem de seu próprio futuro.



Não durma, estude, leia, discuta, procure saber.



por Márcio José Rodrigues