quarta-feira, 31 de agosto de 2011

AFINAL, QUEM SOMOS NÓS?

                         O BURRO E A CENOURA.
                                          

Burro caminhava compassadamente puxando a carroça de frete carregada de fardos, tilintando musicalmente suas ferraduras meio frouxas pelo velho calçamento de paralelepípedos, que ele, certamente, havia ajudado a polir ao longo dos anos.
A vida de Burro não era fácil.
Além do peso da própria carroça, ainda havia a carga, nem sempre pequena, de areia para construção, tijolos e telhas, lenha para os fogões das residências, sacos de farinha para as vendas, as coisas mais imprevisíveis,
Não se recusavam fretes de qualquer tipo, morro-acima, morro-abaixo, para qualquer lugar, com qualquer tempo. Em qualquer circunstância, fosse qual fosse o carregamento, levava ainda de lambujem empoleirado lá em cima de tudo, o dono, que indiferente ao esforço do animal, assoviava sempre a mesma modinha, interrompida só para pitar um velho cachimbo, para cuspir ou repreender a besta com um:
- Anda, Burro! - esquentando-lhe o lombo com uma boa relhada.
Pela tardinha, quase escurecendo, depois de um dia trabalhoso, sofrido, chegavam em casa.
Burro enfiava sofregamente o focinho em um balde d’água nem sempre fresca e depois de saciada sede atacava um feixe de capim, nem sempre verde, em um canto de um tosco telheiro que mal e mal o abrigava da chuva e das rajadas rigorosas do vento sul.
Comia mal, bebia mal, morava mal e trabalhava demais.
O dono executava todos os dias o mesmo ritual, com poucas variações.
Depois de amarrar Burro, pendurava os arreios para arejar, varria meticulosamente a carroça, esfregava-lhe um pano molhado pela pintura, dava-lhe umas sacudidelas auscultando-lhe ruídos estranhos, passava-lhe graxa nos eixos e a abrigava no telheiro, sempre coberta com uma lona.
Então, fechava-se em sua cabana quentinha no areal, acendia a lamparina de querosene, bebia em grandes goles uma canecada de água do pote e assoprava os gravetos no fogão, até que  incendiassem as achas de lenha para aquecer água do  pirão de farinha de mandioca e para o indispensável lava-pés.
            Zé-do - Burro jamais se deitava sem lavar os pés.
As mãos, nem tanto.
E naquela quase mesmice de todo dia, os dois completavam-se, Zé-do- Burro e Burro-do-Zé e era assim que todos os conheciam.
O carroceiro nem pensava em outra vida.
Tudo parecia tão bem asssentado, tranqüilo, os longos passeios em cima da carga, a carroça bem conservada, a burrice de Burro.
Mas, aqui na cabeça, lá nele, no burro, estavam acontecendo algumas perturbações.
Um dia, aconteceu!
Burro empacou pela primeira vez.
Por mais relhaços que levasse, pragas e ameaças, Burro recusou-se a puxar a carroça.
Zé-do-Burro, pasmado, não podia acreditar no que seus olhos estavam vendo.
            Fez de tudo.
Primeiro, descarregou a raiva em Burro, depois pensou em livrar-se dele, vendê-lo, mas quando se aprecatou, já ia muito longe a história do burro que empacava.
Uma noite de insônia, quase sem dinheiro, a conta aumentando na venda, Zé-do-Burro começou a perceber, o quanto sua vida dependia daquele burro.
Até sua condição humana estava reduzida a Zé-do-Burro como se o tempo tivesse já confundido a propriedade e o proprietário, o homem e a besta.
Isto precisava de um basta.
Mas, desfazer-se dele, seria o pior negócio.
Sem ele bem cangado ali na frente, a carroça parecia tão ridícula, tão sem sentido, melancolicamente ajoelhada ali na areia, com aqueles dois braços arriados, fincados no chão.
Os dias de greve, por estranho que possa parecer, aquelas férias forçadas acabaram por fazer bem aos dois.
Burro aparentava mais descansado, mais amistoso e Zé-do- Burro acabara tendo tempo para pensar em muitas coisas.
Foi de muito pensar, que resolveu aplicar um estratagema malicioso.
Arranjou uma enorme, colorida e cheirosa cenoura e balançou-a na frente do focinho de Burro.
O aroma tentador penetrou pelas ventas e percorreu sinuoso aquele corredor que vai até o cérebro, deixando o animal completamente arrebatado, diabolicamente prisioneiro do encantamento.
Então cangou-o de novo na carroça, e matreiro, prendeu nos arreios, um caniço de bambu com a extremidade por cima das orelhas de Burro, de maneira que a cenoura ficasse, irresistível, pendurada ali, tão pertinho da boca, tão na frente dos olhos, cheirando nas ventas.
            Burro nunca mais empacou.
Também, jamais provou da cenoura.
Ela permanece ali como uma promessa, balançando na frente de sua cara, e parece tão pertinho, que basta dar o próximo passo para alcançá-la.
Assim, voltaram às ruas aqueles parceiros pitorescos, com uma carroça bem cuidada, sobrecarregada de mercadorias, e lá em cima, um homem feliz, pitando seu cachimbo, cuspindo de vez em quando ou assoviando sua velha modinha, sem nem precisar mais usar o chicote.
Burro persegue pelas ruas, sua inalcançável cenoura, sem nem mais perceber o peso de sua carga.
Porém, imperceptivelmente, a cabeça, lá nele, continua tendo perturbações.
Chegará o dia em que descobrirá sua força e quebrará a carroça.

Teste sua percepção desta fábula
1. QUEM É O BURRO?
2. QUEM É ZÉ-DO-BURRO?
3. BURRO QUEBRARÁ A CARROÇA?
   

PARA ANITA NO DIA DO SEU ANIVERSÁRIO


por Márcio José Rodrigues

Eu era louco por serenatas.
Uma noite de apagão e lua cheia, procurei meus amigos para a seresta, mas não os encontrei. Já era madrugada quando me sentei sozinho à beira do cais, sentindo o frio de uma brisa do sul, uma gaitinha de boca e uma melodia estranha e antiga que teimava em não sair da minha mente.

            [...] num dado momento ergui a cabeça e a vi!
            Vinha caminhando lentamente sobre o cais, na minha direção.
            Um arrepio perpassou-me todo o corpo, o coração começou a bater descompassado e nem pude esboçar qualquer tipo de reação.
            Repentinamente, tudo em volta pareceu mais frio. Uma sensação de gelo no estômago, quem sabe um pouco de medo, ansiedade, mas era algo diferente, porque havia muita paz.
            A silhueta era de uma mulher esbelta, ereta e impressionava à primeira vista.
            Uma longa saia muito rodada, que não lhe deixava ver os pés, esvoaçava leve, abria-se como um leque e drapejava ao sabor do vento. Do outro lado, colava-se ao corpo, mostrava-lhe o contorno, marcando a cintura muito fina. Sobre os ombros, um xale de renda açoriana, como aqueles que urdem as rendeiras da Barra.
            Uma vasta cabeleira negra, presa em parte, atrás, à nuca, escondia-lhe o rosto à sombra e refletia tons azulados à luz do luar.
            Uma das mãos trazia sobre o peito, segurando as pontas do fino agasalho. A outra, apertava contra a saia, junto ao corpo, num gesto de recato.
            Eu nem me havia recobrado do impacto da surpresa, quando ela me perguntou com uma voz suave e delicada, mas muito envolvente e segura.
            - Isso que vosmecê traz na mão é uma arma?
            Dei-me conta que, um tanto nervoso, eu apertava com muita força, a gaitinha de boca, com a mão suada. Levei algum tempo para me compor, mas ela aguardou pacientemente a resposta. Esqueci até de levantar-me e acho que falei meio gaguejando:
            - Não... não!  É uma harmônica, uma gaitinha de boca... É quase como uma flauta. Soprei uma nota, que ficou tinindo no ar por uns momentos.      
            Ela pareceu não dar muita importância e me senti um pouco tolo, infantil.
            - Então vosmecê não é soldado? 
            - Eu, soldado?  Não sou, não!
            - O que vosmecê faz?
            - Sou professor! - respondi!
            - Professor...
            Pronunciou a palavra professor, num tom que revelava admiração.
            E sem esperar minha resposta, continuou:
            - Só não gosto que batam nas crianças com a palmatória. Vosmecê faz isso?
            - Não! - respondi. Há muito tempo que não se usa mais a palmatória. Não se fazem mais essas coisas hoje em dia. E não revelei, envergonhado, que hoje fazemos pior: nós as matamos de desencanto e de fome de saber. Além disso, continuei, já falando um pouco mais solto, não ensino a ler e escrever. Ensino Biologia, acrescentei com ar de importância, não escondendo a vaidade.
            - Isto eu não compreendo!
            - Biologia, expliquei mais confiante, é uma ciência que estuda sobre a vida, os animais, as plantas... Você sabe, os seres vivos, nascem, crescem, dão frutos...
            - E morrem! - completou.
            Ficamos calados por algum tempo e depois ela continuou:
            - Vosmecê ainda não morreu...
            - Não! Claro, que não! - interrompi.
            - Então, vosmecê, senhor professor, ainda não sabe quase nada!
            Novamente ficamos quietos e parecia que o assunto se acabara. Rebuscava na mente, mas não me vinha nada à cabeça para dizer. Estava me sentindo como um palerma.
            Foi ela quem recomeçou:
            - Já estive aqui neste lugar, antes, muitas vezes. Havia grande movimento de veleiros de carga e barcos de guerra. Eram tempos muito difíceis, mas também, muita coisa bonita aconteceu. Estas pedras não existiam aqui. São tão lindas, tão lisas, parecem que foram cortadas com uma faca. Os barcos ficavam ancorados ali no canal.
            E depois de uma pausa...
            - Era tempo de gente generosa e de coragem. A cidade mudou um pouco. Parece que vosmecês, também!
            Agora a voz foi tomando um timbre mais suave, quase um misto de ternura e certa tristeza.       
            - Sabe? - segredou:  Eu amo este vento e sinto muita saudade daqui!
            - Você não é feliz? - arrisquei perguntar.
            - A gente pode ser feliz e mesmo assim, sentir saudade! A saudade boa é doce. Todos os que eu amo, já estão comigo.
            Eu não podia ver seus olhos, mas acho que chegou a chorar quando falou:
            - Só este lugar não deu para levar. Este meu pago, só aqui, no meu coração!
            Calou por um instante, segurou a barra da saia com cuidado e graciosamente, sem me estender a mão para ajudá-la, sentou-se ao meu lado. Então, para surpresa minha, começou a cantarolar suavemente aquela canção antiga, a mesma melodia que eu trazia na mente. A voz harmoniosa e agradável levou-me por uns instantes a um momento de enlevo, quase que de sonho.
            Voltei-me para olhá-la, mas ela já não mais estava ali. Sua imagem havia desaparecido completamente, como uma ilusão fantasmagórica. Só a voz ainda permaneceu por uns instantes mais, vinda nas lufadas do vento.
            Nem me lembrara de perguntar quem era aquela impressionante mulher, qual o seu nome, de onde viera e também nunca mais a vi.
            Mas, aqui dentro do meu coração, eu sei muito bem.
            Jamais esquecerei as palavras carregadas de sentimento daquela triste canção.


Galopa vento do meu pago,
As minhas velas enfuna,
Que tenho pressa do afago
Da minha doce Laguna.

Farrapo, meu peito trago,
Das marchas desta coluna.
Meu Capitão, por que vago,
No tempo com esta escuna?
Por mais que singre outro lago,
Anseio estar na Laguna.

Antônio, meu santo orago,
Concede graça e fortuna,
Se existe força, te indago,
Que à minha terra me una,
Pois sinto pressa do afago
Da minha doce Laguna.

Assopra meu vento mago.
Revoa, areia da duna.
Galopa vento do meu pago,
Faze voar minha escuna,
Que tenho pressa do afago
Da minha doce Laguna.


texto, poema e postagem márcio josé rodrigues

 
                           
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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

SETENTA - Um presente de aniversário

DOIS MAÎTRES NA COZINHA - Laguna, Brasil, verão 2010. Foto Isabella Barzan
por Mércia Rodrigues Barzan


Se tenta  desde 22 de agosto de 1941, a viver enfrentando com garra o que a vida lhe oferece
Se tenta ter na lembrança uma infância rodeada de carinho
Se tenta superar todos os medos e angustias que o viver lhe apresenta
Se tenta ser um profissional competente, atualizado e honesto
Se tenta passar através de seus contos, versos e discursos o que lhe vai de melhor na alma
Se tenta formar uma família, sólida, agregada e com bons princípios
Se tenta lembrar com amor, saudades, carinho e oração seus antepassados, tão queridos e tão distantes
Se tenta rodear a todos da família com afeto, solidariedade e amor
Se tenta dar, no convívio do dia a dia, aquela jovem linda, que você escolheu para esposa, tudo que há de bom em você em carinho, amizade e cumplicidade
Se tenta aconchegar seus netos Beatriz, Maria Antônia, Pedro e Fernando, neste colo fofo
Se tenta aturar sua única irmã com idéias tão diferentes e tão antagônicas
Entao, meu único irmão e querido Márcio
Você tenta!
Você chega!
Você chegou!
Deus o proteja e o ilumine para sempre.
Feliz Aniversário!

Mércia 
agosto de 2011

Mércia Bárbara Rodrigues Barzan é professora de Matemática aposentada.
É artista plástica ( tapeçaria, pintura em porcelana e rendas de crivo) e poeta não publicada. Maîtresse em culinária, tem ministrado cursos preparatórios para pessoal de restaurantes e hotelaria, como convidada por algumas prefeituras municipais. Reside em Florianópolis.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011


Chove Chuva


Praça Central de Laguna
Em homenagem à Laguna, cidade dos meus ancestrais maternos e também da amiga, escritora, poeta e fotógrafa amadora Maria de Fátima Barreto Michels. Foto da própria.
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Sobre Norma Bruno

Vivo na Ilha de Santa Catarina, Nossa Senhora do Desterro, Florianópolis, vulgo Floripa (urgh!) desde que nasci. Sou de aquário, então vivo com a cabeça na Lua, mas contraditoriamente, não me dou bem com tecnologia e gosto mesmo é de coisa velha. Fiz muitas coisas, deixei pra trás outras tantas, tenho muito por fazer. Coleciono cenas urbanas, rendas de bilro e revistas antigas. Empresária e escritora amadora em todos os sentidos, invento coisas e histórias. -Livro publicado: A Minha Aldeia (Papa-Livros 2004). -Leia Crônicas da Desterro no site www.carosouvintes.org.br
postagem márcio josé rodrigues

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

SOU UM SEPTUAGENÁRIO

Casquinhas de siri, típicas de Laguna, Brasil - Entrada para almoço, por Graça Rodrigues.
Na data de hoje, 23 de agosto de 2011, acordei-me com 70 anos de idade.


  Levantei tarde. O dia está chuvoso e muito frio em Laguna. Espreguicei-me e desci para o café da manhã, quase hora de almoço.


Como o meu tempo voou, pensei em pensar!
Mas, achei o dia semelhante a todos os demais, ensolarados ou  dias nublados e frios. O café com leite estava quentinho e o pão fresco.


Sentei-me, depois,  ao computador para rever as incontáveis mensagens que recebi pelo Face-book, e responder aos emails de congratulações.
Também telefonemas, homenagem nos programas de rádio, mensagens telefônicas, flores, livros, vinhos, perfumes, mas sobretudo curti para nunca mais esquecer o carinho de tantas pessoas, que nem achei jeito para agradecer.

 Ainda estou com as impressões do dia de ontem.
Os filhos, o único investimento financeiro que fiz nesses anos, e netos já haviam almoçado aqui em casa no domingo e retornado aos seus trabalhos e escolas, quase todos em Florianópolis. O combinado é que não haveria festa, pois o dia do aniversário, 22, caiu em segunda-feira.

Domingo à noite, Padre Itamar fez uma baita surpresa para mim na missa da matriz de Santo Antônio dos Anjos, uma breve e bela alocução sobre esta minha pessoa e no final, todos cantaram parabéns. Cheguei em casa com o astral a mil.
 Graça, minha atual namorada há meio século, precaveu-se com alguns salgadinhos para o caso de algum amigo aparecer.
Acertou na mosca. Vieram exatamente aqueles que não precisam de convites no dia de te abraçar.
Ganhei uma serenata. A turma de escritores, poetas e "cantores" do grupo "Carrossel das Letras", trouxe violão e  acabou promovendo uma festa inesperada, dessas que saem melhores que a encomenda.

Tenho uma porção de coisas na cabeça para fazer.  Quero fazer umas reformas na casa, uns armários, comprei uma tv  Led 3D.
Hoje tive agenda cheia no consultório, atendi a várias pessoas, dois casos eram de dor aguda, outro, uma moça de um belo sorriso para reparar uma fratura no incisivo central e mais alguns de rotina e continuidade de tratamento. 
Uma senhora foi-me encaminhada para um caso teimoso de escurecimento de um dente.
Outra pessoa, com lesões dentárias severas por tratamento com radioterapia.
Estou há 47 ao lado dessa cadeira odontológica, nesse quase meio século, nem me lembro quantas delas troquei, pois o design e a tecnologia mudam rapidamente e gosto de estar em dia.

 Vou postar esta matéria no blog daqui a pouquinho, dar uma revisada nos emails, ler mais algumas páginas de " O Décimo Primeiro Mandamento" de Abraham Verghese e quando me deitar, agradecer a Deus por todas as mordomias e benesses, ler alguma coisa da Bíblia no iPad e estudar um pouco nos sites de odontologia, ver materiais e técnicas novas, para me atualizar.
Sou do último dia de leão e, embora não creia em horóscopos, coincidentemente sou vaidoso, auto-confiante, acho que sou comunicativo,  não tolero prejudicar pessoas e por isso respeito-as profundamente. Gosto de fazer tudo perfeito. Ainda preciso estudar muito para melhorar meu trabalho. Amanhã visto-me de branco da cabeça aos pés e recomeço o meu "dia de rotina".

texto e postagem Márcio José Rodrigues

domingo, 21 de agosto de 2011

NORMA BRUNO DIZ O QUE MEU CORAÇÃO ESTÁ SENTINDO


A Minha Aldeia

Norma Bruno | 21/08/2011 at 15:57 | Categories: Uncategorized | URL: http://wp.me/p1vhZ7-5U

Foto: Luiz Carlos Amorim

A aldeia é, desde os primórdios, referência de descanso e abrigo. Nasceu de uma paisagem que convidava ao repouso, quer o caminhante precisasse recuperar suas forças, aguardar um clima mais favorável à caminhada ou permitir-se um tempo de reflexão para a escolha entre dois caminhos confluentes. As necessidades humanas de nutrição e conforto faziam florescer um comércio rudimentar que gerava trabalho e acabava por atrair um maior número de pessoas. Nascia, assim, uma cidade. A aldeia continua viva em mim. Ela é qualquer lugar onde eu tenha a sensação de largar o fardo, sentar à sombra e beber um pouco de água fresca. É o lugar onde eu me sinto protegida e encontro as pessoas que, apesar de peregrinos de seus próprios caminhos, partilham comigo o mesmo espaço e o mesmo fragmento de tempo. Ao pensar nisso, e sem que eu me aperceba, me chegam lembranças de aconchego, nutrição e amparo disfarçadas de goiabeiras e caquizeiros, c heiro de mar e entardeceres preguiçosos. Lembro um lugar feito de risos e confiança, de uma velha casa e um tempo em que o maior problema era inventar a próxima brincadeira. Sou invadida por aquela paisagem. O que me permite dizer sou daqui, pertenço a este lugar, faço parte desta gente é um profundo senso de identificação, emoção que se constrói na aldeia. Pode ser uma casa, uma rua, uma cidade, um caquizeiro ou o peito da pessoa amada; aldeia é qualquer lugar para onde se queira voltar porque é, essencialmente, o lugar da saudade. É tudo aquilo que me inspira amorosidade e onde, envolvida pela emoção do pertencimento, eu sei quem sou. Fernando Pessoa traduziu assim essa emoção...


“O Tejo é mais belo que o rio da minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia.
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
(...) poucos sabem qual é o rio que corre pela minha aldeia.
E para onde ele vai
E donde ele vem...”


Eu também não sei para onde vai o mar que banha a minha aldeia, mas onde quer que vá, ele me leva em suas águas, e de onde quer que venha, ele sempre me trará de volta Às vezes o sonho da gente fica maior do que o lugar e então é chegada a hora de ir. É preciso ter o olhar repleto de paisagens para se conhecer a saudade, porque saudade é desejo de voltar e só aprende a voltar quem aprendeu a partir. Eu sei de onde sou. Sou deste lugar. É apenas “um pedacinho de terra perdido no mar”, mas é mais belo que o Tejo porque fica o mar que banha minha aldeia.
E, por falar nisso, a tua aldeia...Onde fica?

Norma  Bruno é professora de História, escritora e poeta de Florianópolis - SC






postagem Márcio José Rodrigues

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

BBC Brasil - Cultura & Entretenimento - Dicionário de língua morta há 2 mil anos é completado após 90 anos de pesquisas

BBC Brasil - Cultura & Entretenimento - Dicionário de língua morta há 2 mil anos é completado após 90 anos de pesquisas

CHAMADA LAGUNA - AJUDAR O HOSPITAL


É GENTE HUMILDE, QUE VONTADE DE CHORAR (Chico Buarque de Hollanda)

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Remoção do telhado e madeiramento comprometidos.
Texto e postagem Márcio José Rodrigues

A gente tem se acostumado a ver obras públicas tocadas às pressas e de qualquer maneira, asfaltos que não resistem a um ano de trânsito e calçamentos que se afundam na primeira semana, além de delírios de projetistas a inventarem desnecessidades ridículas no trânsito, para infernizar a vida de motoristas e pedestres. E os valores sempre exorbitantes e assustadores, que se administrados por um cidadão cordato e equilibrado teriam um desfecho mais satisfatório em praticidade e sucesso.
Vejamos! A avenida lajotada á beira mar no centro da cidade a dois palmos da lagoa, consegue empoçar a água nos dias de chuva, fazendo com que os motoristas descuidados e ou sem educação deem banhos exatamente nos mais humildes nos pontos de ônibus.

Porém,,,
Aplausos a quem merece e honra também seja feita.
Tenho acompanhado dia a dia a restauração do casarão à Rua Voluntário Firmiano, esse que já abrigou o velho Ginásio Lagunense, A Câmara de Vereadores e mais recentemente a
Biblioteca Pública Romeu Ulysséa.
 O elogio aqui vai para os operários que têm ali trabalhado com paciência,esmero e sobretudo com uma competência extraordinária.
Nem sei o nome deles, mas, da minha janela observo a construção daquele telhado.
O assentamento perfeito dos caibros e ripas e, depois, o resultado do trabalho que já dá  mostras da beleza que será. As telhas são, uma a uma, amarradas ao madeiramento por meio de fios de cobre de modo a fixá-las sem argamassa de cimento, tornando a peça mais leve e à prova de ventanias.
Queira Deus. que após estes artistas carpinteiros, venham pedreiros, eletricistas, restauradores, pintores com as mesmas qualidades.
Minha homenagem a esses homens simples e honestos, com os quias vale a pena aplicar o dinheiro público.

Vejam pelas fotos, o alinhamento dessas telhas,

Observação: este telhado já havia sido reformado, demaneira que, acho, suas telhas não eram mais as antigas, as originais. Em Laguna em um ano elas já estarão pintadas de antigo pelo vento nordeste, a umidade e os fungos. O tempo devolve a História.

Madeiramento novo e colocação das primeiras telhas.
Vista do encontro da água lateral com a frontal.
Vista do "pano" frontal

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

PROJETO INFELIZ PREJUDICA LAGUNA

Imagem Jornal de Laguna

Foto mjr
Com argumentações nada convincentes, ocorreu a 11 de agosto do corrente ano a "ASSINATURA DE ORDEM DE SERVIÇO PARA CONSTRUÇÃO DA NOVA SEDE DO 3ª COMPANHIA DE POLÍCIA AMBIENTAL DE LAGUNA, com projeto de 612,86 m ² e dois pavimentos no valor de R$ 708.000,00.


Acontece, que este projeto rouba um dos últimos espaços de visão da Lagoa de Santo Antônio dos Anjos , principal cartão postal e atração para qualquer tentativa futura para o turismo.


Laguna com sua Prefeitura Municipal e a Secretaria de  Estado Regional de Laguna, principalmente na área de turismo, marcham na direção inversa do desenvolvimento sustentado e racional e, segundo informação colhida no "Jornal de Laguna", com aprovação do próprio IPHAN, sim, este mesmo que  tolheu a construção da imagem de Santo Antônio, por projetar sombra no centro histórico.

A Polícia Ambiental tinha outras saídas inteligentes para o projeto, inclusive no HORTO FLORESTAL,  revitalizando-o como Passeio Público, com lago, animais, ciclovias, um simpático parque temático de lazer e educação ambiental.


Laguna é a única cidade que esconde o mar da visão das pessoas, num processo incabível que não harmoniza com a inteligência de gente com mais visão de preservação do meio ambiente.

Vejamos:
O projeto se interpõe entre as pessoas e a visão do mar;
Não tem necessidade se ser executado ali naquele local;
Amedronta quanto á deposição de dejetos na lagoa;
Rouba o por do sol;
Coloca na paisagem uma construção comum e sem grande valor  arquitetônico, em comparação com a beleza da Lagoa;.
Atrapalha e/ou invalida qualquer ambição futura de uma beira-mar panorâmica como a da capital do estado ou como se está realizando no bairro do Mar Grosso.
O local não se coaduna com a hospedagem e tratamento de animais apreendidos.
Invade a lagoa com um trapiche de atracação que interfere no fluxo das águas e colabora com o assoreamento. 
Suas lanchas estariam bem mais protegidas no interior das docas junto ao mercado público.

MELHOR SERIA REVITALIZAR A ÁREA, TOMBÁ-LA E A EXEMPLO DO MAR GROSSO, PAVIMENTÁ-LA E DECORÁ-LA COM PALMEIRAS E ILUMINAÇÃO ADEQUADA. 
E DEPOIS, O MESMO COM AS CONSTRUÇÕES ABANDONADAS, TRANSFORMANDO TUDO NUM LARGO ESPAÇO DE ENCONTROS E LAZER.
"AINDA ESTÁ EM TEMPO IRMÃOS"


Texto e postagem Márcio José Rodrigues