A Minha Aldeia Norma Bruno | 21/08/2011 at 15:57 | Categories: Uncategorized | URL: http://wp.me/p1vhZ7-5U |
A aldeia é, desde os primórdios, referência de descanso e abrigo. Nasceu de uma paisagem que convidava ao repouso, quer o caminhante precisasse recuperar suas forças, aguardar um clima mais favorável à caminhada ou permitir-se um tempo de reflexão para a escolha entre dois caminhos confluentes. As necessidades humanas de nutrição e conforto faziam florescer um comércio rudimentar que gerava trabalho e acabava por atrair um maior número de pessoas. Nascia, assim, uma cidade. A aldeia continua viva em mim. Ela é qualquer lugar onde eu tenha a sensação de largar o fardo, sentar à sombra e beber um pouco de água fresca. É o lugar onde eu me sinto protegida e encontro as pessoas que, apesar de peregrinos de seus próprios caminhos, partilham comigo o mesmo espaço e o mesmo fragmento de tempo. Ao pensar nisso, e sem que eu me aperceba, me chegam lembranças de aconchego, nutrição e amparo disfarçadas de goiabeiras e caquizeiros, c heiro de mar e entardeceres preguiçosos. Lembro um lugar feito de risos e confiança, de uma velha casa e um tempo em que o maior problema era inventar a próxima brincadeira. Sou invadida por aquela paisagem. O que me permite dizer sou daqui, pertenço a este lugar, faço parte desta gente é um profundo senso de identificação, emoção que se constrói na aldeia. Pode ser uma casa, uma rua, uma cidade, um caquizeiro ou o peito da pessoa amada; aldeia é qualquer lugar para onde se queira voltar porque é, essencialmente, o lugar da saudade. É tudo aquilo que me inspira amorosidade e onde, envolvida pela emoção do pertencimento, eu sei quem sou. Fernando Pessoa traduziu assim essa emoção...
“O Tejo é mais belo que o rio da minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia.
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
(...) poucos sabem qual é o rio que corre pela minha aldeia.
E para onde ele vai
E donde ele vem...”
Eu também não sei para onde vai o mar que banha a minha aldeia, mas onde quer que vá, ele me leva em suas águas, e de onde quer que venha, ele sempre me trará de volta Às vezes o sonho da gente fica maior do que o lugar e então é chegada a hora de ir. É preciso ter o olhar repleto de paisagens para se conhecer a saudade, porque saudade é desejo de voltar e só aprende a voltar quem aprendeu a partir. Eu sei de onde sou. Sou deste lugar. É apenas “um pedacinho de terra perdido no mar”, mas é mais belo que o Tejo porque fica o mar que banha minha aldeia.
Um comentário:
Ao ver a Lagoa de Santo Antônio, que por quinhentos anos e muitos mais, tem sido a vida de Embiaçá, a Laguna, choro ao ler este poema que fala de mar, adeias e rios, por que minha lagoa está morrendo, não só de morte física, mas também no coração dos lagunenses.
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