por márcio josé rodrigues
Confesso que não sei por que estamos aceitando viver dentro de uma lixeira.
Confesso que não sei por que estamos aceitando viver dentro de uma lixeira.
Não falo dos mendigos e dos cães
abandonados.
Falo de todos nós, gente que se
acha etecetera e tal, doutores e professores, senhores e senhoras, diretores,
governantes, comerciantes e comerciários, artistas, escritores, vereadores e eleitores, enfim, nós.
Nossa cidade já está há muito tempo transformada em uma grande
lixeira e fossa cloacal da região sul, recebendo diretamente no útero materno, o
sistema lacustre, todos os dejetos carreados pelos rios, principalmente o
Tubarão e o d’Una.
Do primeiro, calados, somos obrigados
a receber todas as fezes dos nossos vizinhos mais abastados, aluvião acelerada
depois da desastrada retificação daquele curso d’água que coleava em suas
curvas fertilizadoras por milhares de séculos.
O fato é que a retificação do Rio Tubarão, projeto executado assim por sair mais barato, não levou em consideração o transporte mais agressivo de venenos e agentes poluidores, que antes ficavam retidos nas curvas do curso do rio.
O fato é que a retificação do Rio Tubarão, projeto executado assim por sair mais barato, não levou em consideração o transporte mais agressivo de venenos e agentes poluidores, que antes ficavam retidos nas curvas do curso do rio.
Do Rio d’Una, também, os venenos
aplicados na orizicultura.
Das suas lavouras e indústrias, recebemos
agrotóxicos, íons de metais pesados contaminantes de toda a cadeia alimentar,
provocando-lhe doenças e deformações, que atingem a população humana que não
sabe entender porque tanto câncer, tantos linfomas, alergias e intoxicações.
Alguém mais acomodado pode dizer:
- Desta vez o Márcio exagerou!
Mas, como posso calar a boca, se
já são os meus netos que estão neste ciclo de podridão?
Se não aguento mais ficar de boca calada e ainda me orgulho de minha cidade?
Talvez nós já nos tenhamos
acomodado com o mau cheiro da Laguna, com o lixo depositado na porta das lojas.
Acostumamos o nariz, a visão e o paladar e não nos importamos mais em receber
visitas em nossa casa suja?
Talvez ninguém mais se importe em
comer camarões e peixes doentes, contaminados de mercúrio, arsênico, cádmio, cromo, chumbo, e defensivos agrícolas, nem com a morte dos botos nem com as crianças
destinadas a uma vida sem saúde, nas filas de assistência médica.
Será que já nos acostumamos a
viver assim e nem sentimos mais?
Agora que nosso prefeito, o
Professor Célio Antônio foi eleito presidente da AMUREL, ( Associação dos municípios da região
da Laguna), cabe-me respeitosamente pedir-lhe que dê um soco na mesa das
reuniões e grite por uma tomada de posição corajosa , que exija a punição dos
municípios e das empresas, industriais ou agropecuárias infratoras do convívio
ecologicamente correto.
O cargo lhe proporciona uma
grande projeção e destaque, mas também lhe coloca um fardo nas costas.
Talvez o senhor precise dizer:
- Querem ser nossos vizinhos?
Então não joguem lixo em nosso terreiro!