quarta-feira, 2 de novembro de 2011

DIA DOS MORTOS

foto Márcio José Rodrigues
                          por Márcio José Rodrigues

       Por que será que colocamos flores condenadas a murchar, para enfeitar os túmulos dos nossos saudosos mortos?
         Não existe nada mais deprimente e triste que passar por um cemitério no dia seguinte a um funeral ou ao dia dos mortos.
         É no dia seguinte que a morte exibe sua verdadeira face.

      Sobre os túmulos melancólicos e tristes, flores murchas debruçam impotentes seus talos sem força. Ontem, rosas imponentes, viçosas desafiavam com sua beleza e majestade, a humildade solene de brancos lírios, do colorido dos crisântemos, o perfume dos cravos e a pobreza das margaridas.
Pois são exatamente elas, as soberanas rosas, a mostrar primeiro a ação da mão doentia da morte. Pétalas aveludadas e viçosas, coloridas, despencam dos cálices e as que ainda teimam e equilibrar-se nas corolas cabisbaixas, já ostentam a marca amarelada de ocre do fim de sua efêmera existência.

     Em tudo domina um perfume agressivo, picante, acre,  que a nenhum outro foi dado para representar com tanto realismo o cheiro da morte.
      A agonia que nos assola, pede que removamos logo aquele entulho do campo santo, para deixar tudo limpo e arrumado, como uma cidade varrida e bem cuidada.

    Por que, pessoas que viveram ao nosso lado e tantas vezes interagiram conosco em vida, só mereceram flores no dia da triste despedida?

     Procuro entender o simbolismo do gesto amável dos familiares saudosos em homenagear seus “entes queridos” na dia dos finados.
Talvez haja em cada gesto, um misto de saudade e de remorsos, amor e sentimento de culpa, por pensarmos talvez, que não fizemos o bastante por eles enquanto estiveram ao nosso lado, enquanto podíamos ter-lhes trazidos uma flor, simplesmente para dizer que os amávamos e queríamos tão somente alegrar mais o seu dia.

       Procuro um pensamento me consiga trazer alguma luz para entender essa questão dualista que me incita e desafia .
Será talvez aquele lado doce da saudade, para aquelas pessoas que fizeram em vida para merecê-lo e para aquelas que, ainda vivas, têm essa delicadeza?

         É a intemporalidade da morte, que não existe, assim como a vida também não.
Elas são como que duas palavras de uma mesma frase que só faz sentido quando lado a lado, como as duas faces de uma mesma moeda que só tem valor se as duas estiverem presentes, individualizadas, mas concretas, quando juntas.


Assim como a morte não existe sem a vida, a vida não existe sem a morte.

Só o cristianismo pode compreender o dia dos finados, pois é a única ponte, que a exemplo dos adjetivos e substantivos, preposições e artigos, que quando juntos, dão sentido ao verbo existir, é a COMUNHÃO DOS SANTOS que une mortos e vivos em uma só e eterna comunidade, onde a morte é apenas um advérbio de tempo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Marcio: gostei destas palavras acerca do dia de finados. Acredito seja importante parar uns minutos para uma reflexão. Partiram do meu convívio, dentre outros, pai, irmão, avós, amigos, primos, tios, cunhada e o mundo ficou um pouco incompleto sem eles, mas há algo que considero positivo: sinto falta é da alegria que compartilhávamos. Foi muito bom dizer de várias formas que eles faziam parte da minha vida. Sei que fica uma sensação muito forte de desamparo com as perdas. Para os que estão aflitos neste dia, nosso abraço é importante. Fatima Barreto Michels.

Anônimo disse...

as mesmas flores que murcham em um tumulo também
se despedem com sua beleza e odor, após uma festa de aniversário, casamento. prefiro as flores nos cemitérios, pois terminam de morrer com que já nao está mais presente. flor morta, cheiro de água velha de vaso só me fazem lembrar momentos muito bons na minha vida, quando eu ia arrumar a igreja com a minha amada vó santilina. que deus a tenha no dia de hoje, assim como todos que já se foram e que nos são caros.
angela wendhausen rochadel

Anônimo disse...

Dia Finados é o dia em que homenageamos aqueles que já partiram!
Aqueles que viveram entre nós Que encheram de sorrisos e de paz a nossa vida.
Foram para o além deixando este vazio inconsolável
Que a gente, às vezes, disfarça, para esquecer
Deles guardamos até seus simples gestos.

Abração Doutor

Maria de Lourdes Castro

Anônimo disse...

Olá meu irmão de fé:

Está lá no Evangelho que toda semante tem de morrer para que germine.Como cristãos-católicos professamos que cremos na ressurreição da carne e na voida eterna, e São Francisco deixou para cantarmos : ... e é morrendo que se vive para a vida eterna. Reforçando tudo isso, a nossa Igreja Católica Apostólica Romana celebra dia 1º de novembro a festa de todos dos santos: TODOS! TODOS! TOTOS! e, no dia 2, celebra a vida lembrando os mortos. Bela e estimulante da fé essa tua crônica.Obrigado!
Um abraço do João Jerônimo