OS BEBÊS DE FELICIANA
Conto - por Maria de Fátima Barreto MIchels
Todo 24 de dezembro é aquele ritual. Ela espera escurecer, pega a caixa escondida sob o assoalho da cozinha, retira os bebês e começa a lavação. Com uma escovinha trata de limpar muito bem todas as peças de louça na pia. Seca tudo com o maior cuidado. O paninho é unicamente para aquela função, afinal, ter em casa tão fino artefato é para si o êxtase, embora misturado ao remorso. Este pecado ela confessará antes de morrer, foi o que prometeu diante do santíssimo, quando entrou na sacristia e levou a alva toalhinha que cobria o cibório.
Na casa onde vive com o marido tudo é na estica. Ao final do mês, é o dinheiro da previdência mais o da venda do papelão. São felizes. Chegam a esta conclusão sempre que conversam após assistirem na TV as coisas terríveis acontecendo no mundo. Olavo, antigamente, ficava meio contrariado com “aquela mania” dela, mas colocou nas mãos de Deus. No mais, se dão muito bem desde que se casaram. “Ela é a melhor mulher do mundo”, é o que ele conclui a cada natal. Os vizinhos sabem que Dona Feliciana é muito religiosa e na semana do natal ela e o marido vão até as cidades vizinhas ver o movimento. Principalmente vão rezar diante de presépios e olhar as ruas enfeitadas. O casal sempre volta com uma sacola, uma caixinha, um volume qualquer.
É o único luxo de passeio, o resto do ano é a vida de rotina. O homem abriu o forno e o acendeu colocando o frango bem temperado. Sentada no chão, diante de inúmeras manjedouras de papelão, feitas pelo próprio Olavo, a mulher vai distribuindo em cada uma um menino Jesus. Cada um mais lindinho do que o outro. Sente-se uma mulher totalmente realizada. Olavo a abraça com força e depois beija sua testa.
Ele soubera desde muito jovem que nunca seria pai, mas hoje é a noite do santo natal, data que eles adoram! O cheirinho gostoso do assado pronto é convidativo. Lá fora passa gente falando em Papai Noel. Do assoalho, todos os bebês sorriem com seus bracinhos acolhedores. Feliciana sorri por dentro. Os bebês mais amados do mundo estão ali sob seus cuidados. Todos surrupiados em presépios nas lojas, nas casas e nas igrejas, ao longo dos anos.
postagem Márcio José Rodrigues
Conto - por Maria de Fátima Barreto MIchels
Todo 24 de dezembro é aquele ritual. Ela espera escurecer, pega a caixa escondida sob o assoalho da cozinha, retira os bebês e começa a lavação. Com uma escovinha trata de limpar muito bem todas as peças de louça na pia. Seca tudo com o maior cuidado. O paninho é unicamente para aquela função, afinal, ter em casa tão fino artefato é para si o êxtase, embora misturado ao remorso. Este pecado ela confessará antes de morrer, foi o que prometeu diante do santíssimo, quando entrou na sacristia e levou a alva toalhinha que cobria o cibório.
Na casa onde vive com o marido tudo é na estica. Ao final do mês, é o dinheiro da previdência mais o da venda do papelão. São felizes. Chegam a esta conclusão sempre que conversam após assistirem na TV as coisas terríveis acontecendo no mundo. Olavo, antigamente, ficava meio contrariado com “aquela mania” dela, mas colocou nas mãos de Deus. No mais, se dão muito bem desde que se casaram. “Ela é a melhor mulher do mundo”, é o que ele conclui a cada natal. Os vizinhos sabem que Dona Feliciana é muito religiosa e na semana do natal ela e o marido vão até as cidades vizinhas ver o movimento. Principalmente vão rezar diante de presépios e olhar as ruas enfeitadas. O casal sempre volta com uma sacola, uma caixinha, um volume qualquer.
É o único luxo de passeio, o resto do ano é a vida de rotina. O homem abriu o forno e o acendeu colocando o frango bem temperado. Sentada no chão, diante de inúmeras manjedouras de papelão, feitas pelo próprio Olavo, a mulher vai distribuindo em cada uma um menino Jesus. Cada um mais lindinho do que o outro. Sente-se uma mulher totalmente realizada. Olavo a abraça com força e depois beija sua testa.
Ele soubera desde muito jovem que nunca seria pai, mas hoje é a noite do santo natal, data que eles adoram! O cheirinho gostoso do assado pronto é convidativo. Lá fora passa gente falando em Papai Noel. Do assoalho, todos os bebês sorriem com seus bracinhos acolhedores. Feliciana sorri por dentro. Os bebês mais amados do mundo estão ali sob seus cuidados. Todos surrupiados em presépios nas lojas, nas casas e nas igrejas, ao longo dos anos.
Professora, poeta, escritora.presidente do grupo de escritores CARROSSEL DAS LETRAS - Laguna, Brasil |
Um comentário:
Parabéns aos poetas dessa nossa Laguna
Abração
Maria de Lourdes
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