LA PERSISTENCIA DE LA MEMORIA - Salvador Dali,1931 |
Márcio José Rodrigues
Não está escrito no livro do Gênesis, mas muitas outras
coisas aconteceram que não foram relatadas.
Deus disse: “Incline-se o eixo da Terra para que seja iluminada desigualmente durante sua volta de um ano em torno do sol. Que se façam
quatro estações distintas, que haja primavera, que haja verão, inverno e
outono.”
E o homem aprendeu que haveria tempos de luz e de sombra, de
flores e de folhas mortas, de fartura e necessidade.
Tempos de correr livre e brincar pelos campos, tempos de
banhos nos rios e de pescar, de dançar em torno do fogo, celebrando canções de
amor. Moças nuas e rapazes musculosos a
ostentar a beleza de seus corpos enfeitados de tintas e de plumas nos reflexos
avermelhados das chamas.
Sábios e experientes caçadores contavam de suas façanhas, lembravam feitos de grandes guerreiros,
repetidamente, palavra por palavra, noite após noite, para que a história se
perpetuasse nas mentes e nos corações e
depois fossem retransmitidas aos descendentes até serem finalmente escritas
milênios depois.
As folhas amarelando e caindo e exuberância dos frutos
maduros, a festa dos alegres gritos das crianças a se fartarem livres e sem
culpas nas exuberantes árvores do paraíso.
Tempos de se recolherem na escuridão das cavernas nas noites
intermináveis de frio, na escassez dos alimentos, no medo das trevas e seus
mistérios que só os velhos sabiam desvendar; o tempo a passar lento, mas de
maior aconchego, de novas histórias, dos monstros da noite, da fúria dos
espíritos do vento, do frio e dos raios.
O acordar numa manhã luminosa ao som mavioso do trinado de
um pássaro, a erva verde a despontar por entre as brechas da neve e as flores
explodindo cores pela campina enfeitada de primavera; o alívio milagroso no
coração, porque a vida ressuscitava e se renovava a promessa de novas
esperanças, tempos de festa, alegria, felicidade.
Depois, quando perdeu a inocência, o homem ganhou orgulho e
soberba e um dia achou que podia aprisionar o tempo e até comandá-lo, como se
fosse um animal que domesticara ou o escravo que aprisionara. Inventou o
relógio e o calendário e impôs normas para o apito pontual da fábrica, o
momento exato das refeições, das crianças aprisionadas em horas rígidas em
salas de aula, comandadas por sirenes que lhes determinam ordens subliminares
de ficarem em silêncio, manifestar alegria ou até liberarem seus intestinos e
bexigas.
Assim, impôs a toda a humanidade que superlota o planeta,
que ao encerrar o dia 31 de dezembro de cada ano, no exato momento em que o
tempo se confunde naquele segundo de separação, que comece uma grande festa,
que as pessoas permaneçam acordadas e se embriaguem e comam por que um novo
tempo vai começar.
O velho tempo, porém em sua pachorra de simplesmente passar,
nem toma conhecimento disso, inexorável, indiferente.
Mas, convenhamos, é necessário que a gente pare um momento
para deixar a esperança aflorar em nossos corações, nem que seja por decreto e
convenção e fazermos a necessária pausa na rotina e por um dia pelo menos,
sermos primitivos e inocentes como nossos ancestrais do paraíso. Precisamos
muito disso, mais do que nunca.
Deixemos ao nosso espírito, a oportunidade de recomeçar a
vida como se ela estivesse nascendo outra vez, numa oportunidade de sermos
melhores e fazermos as coisa certas.
Então, FELIZ ANO NOVO!
FELIZ 2014.