texto, foto e postagem por márcio josé rodrigues.
Não me sinto bem escrevendo sobre
a figura do pai.
É que tenho uma grande lacuna
jamais preenchida em minha vida, pois o meu se foi quando tinha apenas dois
anos e sete dias.
O fato de ele ser portador de uma
doença grave para época, fez com que eu fosse retirado de sua companhia para
viver de favor na casa de amigos e parentes, longe dele.
Os últimos 70 anos de minha
existência foram sem a sua querida e necessária companhia e se refletiram
drasticamente sobre minha estrutura psicossocial.
Não é fácil, creiam perceber
apenas um vazio ao tentar imaginá-lo em minha história, sem poder conta-la ou
catar algum tipo de experiência, alguma imagem saudosa.
Embora eu tenha tido um avô muito
querido, tios maravilhosos e uma heroína em forma de mãe, aquele vazio não se
preencheu nunca.
Em todas as fases, infância,
puberdade, adolescência, juventude e até hoje na minha vida adulta, sempre
houve esta cadeira de perna quebrada que se desiquilibra cada vez que tento me
acomodar.
Mesmo que eu seja um homem
religioso, até meu relacionamento com Deus foi abalado. Como um homem que não
teve referência de pai, pode moldar em sua mente a figura da paternidade, da
bondade e do carinho paternal de Deus?
Ninguém sabe como eu sonho por
aquele abraço que se perdeu no século passado.
Na medida do possível, vou
lutando ainda e vencendo. Tenho recebido muita luz e muito amor e sou grato por isso.
Peço desculpas aos meus filhos
pelo meu tipo de paternidade tumultuada, pois eu não tinha um modelo para
seguir. Eles é que foram a minha escola, meu material de laboratório, minhas
“cobaias”. Se conseguimos aproveitar
alguma coisa deste rascunho, desta construção sem projeto, foi graças a eles
que se salvou alguma coisa, ou melhor, que se salvou tudo, pois mais do que os
fiz filhos, eles me fizeram pai.
Verdade é que eu os amo com todas
as forças do meu coração, mesmo que seja um pai atrapalhado, mas presente.
Posso dizer que tenho me
esforçado em superar minhas barreiras e ser uma pessoa melhor.
Minha experiência, no entanto, me
credencia para poder falar com autoridade aos pais de hoje.
A ausência que você faz a um
filho, não pode ser preenchida com nada que você queira ou possa tentar
patrocinar.
Não mande presentes a eles.
Faça-se presente!