sexta-feira, 15 de abril de 2011

CANTIGAS DE VENTO

imagem Google


 por Márcio José Rodrigues

O vento canta nas telhas
E elas põem-se a dançar.
E são cantigas tão velhas,
Que o vento sabe cantar                           

No anoitecer sonolento
A gente segue seu fado:
Sonhar ao sabor do vento,
A assoviar no beirado.

Assombrações são varridas
Dos pesadelos medonhos.
Nas casas adormecidas,
O vento brinca nos sonhos.


Tamborilar nos telhados,
Marcar cadências, e às vezes,
Parecem sons compassados
De tamancos portugueses


São raparigas morenas
Bailando. Sorrisos francos,
Risos brancos de açucenas
E a marcação dos tamancos.

Vistosas fitas em trança
Num mastro entrelaçando,
Saias rodadas na dança
Das raparigas girando.

Mas a manhã vem surgindo
E o vento vai embora
E as raparigas sumindo,
Como fantasmas, na aurora.


Os sons também vão fugindo,
Vão-se as fitas coloridas,
Como fumaça fluindo
Nas telhas já adormecidas.



Em minha cidade portuguesa no Atlântico Sul, o vento é um companheiro constante dos pescadores, navegantes, poetas e meninos que gostam de soltar pandorgas. Ás vezes amedronta, assoviando nos beirados, sacudindo janelas e portas, rolando bacias no quintal e à noite mexe com os telhados, fazendo com que as telhas batam umas nas outras como se estivessem a dançar. Gosto de dormir assim, ouvindo sua cantilena e sonhar como um personagem da história da minha cidade.


5 comentários:

Clarice Villac disse...

Maravilhosamente sugestiva e sonora sua cantiga !

Parabéns !

:~)

Anônimo disse...

Bonita essa sua Cantiga.
Parabéns


Maria de Lourdes Castro

Anônimo disse...

Alô blogueiro! Nosso dileto amigo Jota enviou carta-comentário que vou colocar aqui. Sei que cursaram junto o científico no Colégio Catarinense e de lá permanece entre vocês um diálogo que venceu o tempo. Agradeço ao professor João Jerônimo a parte que me foi destinada na missiva. Abração da Fatima.
“Caro irmão de fé, amigo-irmão Márcio: Esse seu Blog, a cada dia, mais me surpreende. Imagens, imaginação, inventários, tudo a mexer com a gente, no sentimento, na surpresa, na certeza de uma inteligência a serviço dos outros pela partilha de seus resultados. É isso e por tudo isso, meu irmão que muito me emociona adentrar a esse seu Blog. Muito obrigado, por tudo e principalmente pelo cultivo das letras, na erudição poética de tuas poesias, no referendo histórico de tuas lendas, na descrição precisa de tuas crônicas e contos! Tudo, tudo, repassado de fé: em Deus, nas pessoas em si, na humanidade, nas letras, nas artes e nas ciências, área esta das tuas atividades profissionais. Quero cumprimentar também a Fátima pela bela apresentação fotonarrativa da ligação Jacque-pedreiros-pintores-fotografia, tudo muito bem urdido formando linda telaesculturada, simbolicamente explicada e belamente apresentada. Um abraço especial pela tua maravilhosa "Cantigas de Vento", e pela crônica "A Terra é Azul", do Jotamigo . Se puderes colocar como comentário, gostaria. João Jerônimo De Medeiros”

walnelia disse...

Bom dia querido Marcio!Teu Blog é um presente com lembretes preciosos sobre a Vida em seu todo.É disso que o mundo precisa...mudar o foco para o Bem,para a Poesia.Olhar com brandura e transformar Conhecimento em Sabedoria.Muito obrigada,pela Mensagem transmitida em pequenos detalhes.
Abraço fraterno da walnélia

RITA MEDEIROS disse...

Pois agora que fui tentar cumprir minha promessa, vejo que esqueci o que havia comentado.
Paciência! É um problema de DNA mesmo!
Mesmo assim, vou repetir, QUE BELA POESIA!
O mesmo que os outros acima disseram, mas é adequada!
Estas quadrinhas me remeteram às conversas na mesa de jantar... umas histórias que o seu Roldão teimava em contar, que o mar um dia ia voltar para tomar o seu lugar que os molhes haviam tomado!
Do meu quarto, na minha casa da Getúlio Vargas, eu ainda podia ouvir os sons das ondas, na praia do mar grosso, nas noites em que o Inverno acontecia com toda a sua força e mistério.
Nestes momentos, medrosa como eu só, eu pedia:
-Por favor, menino Jesus, não deixe o mar tomar o seu lugar esta noite!
Ser capaz de fazer-nos recordar coisas tão boas, de forma tão poética, é um dom!
EXERCITE-O sempre, por favor!