sábado, 11 de agosto de 2012

UMA CADEIRA QUEBRADA

 

                                    texto, foto e postagem por márcio josé rodrigues.

Não me sinto bem escrevendo sobre a figura do pai.

É que tenho uma grande lacuna jamais preenchida em minha vida, pois o meu se foi quando tinha apenas dois anos e sete dias.
O fato de ele ser portador de uma doença grave para época, fez com que eu fosse retirado de sua companhia para viver de favor na casa de amigos e parentes, longe dele.
Os últimos 70 anos de minha existência foram sem a sua querida e necessária companhia e se refletiram drasticamente sobre minha estrutura psicossocial.
Não é fácil, creiam perceber apenas um vazio ao tentar imaginá-lo em minha história, sem poder conta-la ou catar algum tipo de experiência, alguma imagem saudosa.
Embora eu tenha tido um avô muito querido, tios maravilhosos e uma heroína em forma de mãe, aquele vazio não se preencheu nunca.

Em todas as fases, infância, puberdade, adolescência, juventude e até hoje na minha vida adulta, sempre houve esta cadeira de perna quebrada que se desiquilibra cada vez que tento me acomodar.
Mesmo que eu seja um homem religioso, até meu relacionamento com Deus foi abalado. Como um homem que não teve referência de pai, pode moldar em sua mente a figura da paternidade, da bondade e do carinho paternal de Deus?
Ninguém sabe como eu sonho por aquele abraço que se perdeu no século passado.

Na medida do possível, vou lutando ainda e vencendo. Tenho recebido muita luz e muito amor e sou grato por isso.
Peço desculpas aos meus filhos pelo meu tipo de paternidade tumultuada, pois eu não tinha um modelo para seguir. Eles é que foram a minha escola, meu material de laboratório, minhas “cobaias”. Se conseguimos  aproveitar alguma coisa deste rascunho, desta construção sem projeto, foi graças a eles que se salvou alguma coisa, ou melhor, que se salvou tudo, pois mais do que os fiz filhos, eles me fizeram pai.
Verdade é que eu os amo com todas as forças do meu coração, mesmo que seja um pai atrapalhado, mas presente.
Posso dizer que tenho me esforçado em superar minhas barreiras e ser uma pessoa melhor.

Minha experiência, no entanto, me credencia para poder falar com autoridade  aos pais de hoje.
A ausência que você faz a um filho, não pode ser preenchida com nada que você queira ou possa tentar patrocinar.
Não mande presentes a eles.
Faça-se presente!

9 comentários:

Anônimo disse...

Sinto essa ausência permanentemente...embora tendo um Pai nesta existência...E tão distante de essência... Mas enquanto existência e essência não precede ou vice-versa, vou vivendo e sendo o melhor de mim para as pessoas que se fazem presentes!!!!

Ana disse...

Dr.Márcio realmente é assim mesmo, também perdi meu pai aos 11 anos, me sentí igualmente só e travei uma luta com Deus por ter levado o meu. É realmente uma cadeira quebrada na nossa vida a falta da presença do homem, embora como o senhor também tive uma grande mãe que se fez presente e foi bastante forte para criar 6 filhos sózinha, numa pátria que não era a dela, sem parentes pra ajudar, meus avós em Portugal...só nós os filhos para nos apoiarmos junto dessa mãe. Lutamos, trabalhamos, sempre unidos, nos fortalecemos uns nos outros. Mas sempre ficou o vazio da presença do pai. Eu me tornei uma mulher tão batalhadora quanto ela, pois desde essa idade tive que enfrentar o trabalho no comércio juntamente com meus irmãos. Parei de estudar, pois tinha que cumprir horário de trabalho com apenas 11 anos...depois aos 14 para 15 é que conseguí terminar o ginásio. Nunca parei de trabalhar, pois foi o que ela nos ensinou. Enfrentar a vida, não depender de ninguém, não pedir nada aos amigos, nem esperar por ajuda de parentes pois estavam distantes. Nos tornamos fortes pois era o único caminho para sobreviver. Por esse motivo me tornei como ela uma mulher autoritária, não sei se é ruim ou bom, só sei que me espelhei na imagem que me foi dada por ela. Agradeço a Deus por tudo que ela nos ensinou, pela força que ela demonstrava, pelas surras que levei, pelos carinhos que recebí, pelos exemplos que ela nos deu...de pessoa de caráter! Mas um ponto negativo é que na minha família quase toda referencia de força veio da mulher, pois só conhecí uma vó paterna, e a mesma também criou os seus filhos sózinha. Morou com minha mãe até sua morte, eu tinha 7 anos na época, mas me recordo de sua força, personalidade marcante, teimosia, e também bondade. E assim foi a vida, mulheres fortes, as que conhecí, as histórias que minha mãe nos contava sobre as mulheres da família que tiveram que criar seus filhos sozinhas. Então me tornei essa que sou...não aprendí a depender muito do homem, embora gosto de ter a companhia masculina, não acho que o homem seja minha coluna de apoio, acho que ambos formamos essa coluna. Temos que ser fortes um para o outro, pois ambos temos parte da mesma força. Na falta de um o outro deve se virar sozinho. Ou quando um não está bem o outro assume o papel de manter tudo em ordem e passar para os filhos a imagem de força, para que os mesmos não desanimem, ou sintam-se protegidos! Assim vou levando a vida...não sei se errei ou acertei em tudo, mas tentei e tento ser uma figura sempre presente, uma pessoa de fibra. Espero ser lembrada pelos meus filhos e netos como lembro da minha vó...Uma pessoa batalhadora e sempre pronta para ajudá-los. E minha mãe, hoje com 83 anos, não tão forte quanto foi outrora, mas firme como uma rocha, meu porto seguro!

Rosângela Bongiolo disse...

DR Márcio, fiquei emocionada ao ler um texto tão lindo... e lembrando ainda o pai presente q tenho, amoroso , querido, meu amigo, tenho certeza q seus filhos dizem o mesmo . Com certeza a presença dele lhe faltou,mas sua proteção o acompanhou sempre.
Um grande abraço pelo pai q vc é , FELIZ DIA DOS PAIS,BJOSSSSSSSSSSS

Anônimo disse...

Um pai que no dia-a-dia seja referência é sem dúvida algo valioso. Para mim tudo pode acabar em poesia e como ontem visitei nossa amiga Maria Estelita Barrreto vou colar aqui o poema que ela recitou-me lindamente “de cabeça” nos seus 86 aninhos, de autoria de Francisco Otaviano:
“Quem passou pela vida em branca nuvem,
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu.”
Pois é Márcio daí veio o Vinícius de Morais e completou naquela deliciosa canção: “Porque a vida só se dá pra quem se deu. Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu. (...) Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão” . Li o relato da Ana (sua leitora acima) e também a crônica do Amorim no Jornal de Laguna de ontem. Fiquei aqui matutando e lembrei-me de uma amiga que fez terapia para resgatar o pai. Fui ao Google e escrevi o título de uma crônica que publiquei em 2003 acerca de meu pai. E lá no site estava meu texto dizendo que ele era o máximo, contrariando minha adorada avó que não o via assim. A gente precisa conjugar o verbo amar de várias maneiras dentro da família. Para encerrar vamos citar aquele texto que Maria Bethânia declama antes de cantar “Volta por cima” . Eu adorava ouvir a poesia que ela dizia naquele disco bolachão e aqui vai um excerto: “Simpatizo com alguns homens pelas suas qualidades de caráter, e simpatizo com outros pela sua falta dessas qualidades”. Beijo pra todo pai babão, amoroso, corujão e feliz como vc caro Márcio! P.S.:Agora vou sair e olhar a manhã de sol.Fatima Barreto Michels.

Anônimo disse...

Márcio
Tão bonito o teu depoimento sobre a ausência de pai na tua vida.
Tua tristeza é legítima e nada do que possa ser dito mudará este sentimento.
Tal qual no Mito da Caverna, de Platão, cresceste acreditando que as sombras dos fragmentos de imagem do teu pai projetados nas paredes da caverna eram a própria imagem de teu pai. Mas isto era pouco e tiveste que ir construindo, talvez em torno daquela foto linda que tens na tua sala (como o Theobaldo era bonito, garboso) um enredo, uma historia, na tentativa de preencher este vazio.
Com certeza não te faltou um pai, no sentido de autoridade, representado tão bem pela tia Quena, mulher forte, pai/mãe da melhor qualidade. Mas te faltou um modelo, um espelho! E mesmo assim conseguiste ser pai de quatro filhos, criados talvez na intuição, na tentativa de erro/acerto. E acertaste! Criaste filhos que se tornaram bons pais e que com certeza aproveitaram o que de melhor pudeste dar para eles.
Aos setenta anos, assim como eu, aos sessenta, já estamos na idade em que os papéis se invertem e os filhos se tornam nossos pais.
Portanto, amanhã no dia dos pais, esquece um pouquinho a tua dor e deixa que o Marco Antonio exerça a funçao de teu pai e que daqui algum tempo também o Marcinho cumpra este papel.
Um beijo carinhoso e um dia dos pais feliz, com filhos e netos
Rachel

Anônimo disse...

Doutor Marcio, Parabéns pelo dia dos Pais,e, também pelo texto comovente que escreveste.
Felicidades a todos. Um beijos.

Avani Rodrigues disse...

Dr. Marcio, meu querido amigo
Se antes, já lhe apreciava, lhe admirava pela sua maneira
de ser e de postar, agora lhe quero e admiro muito mais,
pois, tenho quase sua idade e também sofro com a perda
irreparável de meu pai há 31 perdi e, desde lá, nunca mais
fui feliz, com ele foi minha coragem, minha força meu pique
de viver......
FELIZ DIA DOS PAIS PARA OSENHOR E QUE DEUS LHE ABENÇÕE HOHE E SEMPRE

Anônimo disse...

Dr. Márcio, a presença de um pai em nossas vidas é realmente muito importante, é uma referência pra vida inteira, a base de tudo.
Apesar de o senhor ter convivido tão pouco com o seu pai, não o isentou de ser uma pessoa tão íntegra, exemplar e amável que é. Seu pai com certeza o acompanha lá de cima, guiando seus passos, sendo o seu anjo da guarda.
Agradeço a Deus todos os dias por ainda ter o meu querido velhinho ao nosso lado, mesmo já tão debilitado, somente nos acompanhando com o olhar; mas sua presença, enquanto Deus permitir, ainda é uma benção, uma luz.
Parabéns pelo senhor ser um pai tão presente e tão admirado.
Um grande abraço de quem muito o admira.
Rachel Ghisi Guimarães

graça disse...

Oi Márcio
Lindo texto!!.´Que se expressa como uma homenagem ao teu pai e a todos os outros pais.
Eu, que graças à Deus ainda desfruto da companhia do meu, que justo neste ano completou seus 87 no Dia dos Pais sei o quanto isto continua a ser importante.
Mas,por sorte conheço e desfruto da amizade de todos voces ,afirmo que és um bom pai e merecedor de muitas felicidades no teu dia !!!
Um forte abraço